domingo, 21 de dezembro de 2008

REPORTAGEM LOCAL FSP

RAFAEL CARIELLODA REPORTAGEM LOCAL FSP

Uma janela para outras culturas ou um espelho do país? Políticos,produtores e profissionais de TV se viram envolvidos em 2008 num debateacerca do papel da televisão brasileira, sobre a medida em que essasduas características devem ser combinadas e se cabe ao Estado regular oconteúdo do que o telespectador verá.A decisão deve ficar para o ano que vem, mas um projeto de lei que criacotas para produções nacionais e independentes na TV por assinaturaprovocou a discussão nos últimos meses, estimulada mais por motivoseconômicos do que culturais.O debate sobre cotas vem embalado por um projeto de lei mais amplo, quelibera as operadoras de telefonia para atuar no mercado de TV porassinatura (PL 29), originalmente proposto pelo deputado federal PauloBornhausen (DEM-SC), ainda em 2007.O projeto ganhou acréscimos de outros parlamentares e foi relatado naComissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática pelodeputado Jorge Bittar (PT-RJ). Há duas semanas, recebeu apoio explícitodo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante cerimônia de lançamentodo Fundo Setorial do Audiovisual, no Rio, ele prometeu empenho dogoverno na sua aprovação.Segundo o relatório de Bittar, entre outras determinações de programaçãomínima, as programadoras de TV paga deveriam reservar 10% do tempo totalveiculado em horário nobre para produções nacionais e independentes deséries, filmes e documentários.Além dessa, há uma série de diferentes cotas que se somariam no efeitofinal. O objetivo é garantir não só a veiculação de produtos nacionais,mas também de material que seja produzido por empresas distintas daspróprias programadoras e transmissoras (ou seja, feito pelos chamadosprodutores independentes).Numa mesma "empacotadora" de TV a cabo -aquela de quem o telespectadorcompra o serviço, como a Net ou a TVA- há várias programadoras, quedeterminam o conteúdo de um conjunto de canais. A HBO, por exemplo, é aprogramadora de uma série de canais que trazem o seu nome ou o nomeCinemax. Se aprovada, as cotas deverão ser cumpridas por cada uma dessasprogramadoras, e não pelo conjunto de canais ofertados numa assinaturade TV a cabo.
Instrumento ineficaz A proposta é atacada pela ABTA (Associação Brasileira de TV porAssinatura). Seu presidente, Alexandre Annenberg, diz não se opor a umamaior presença de conteúdo nacional na programação, mas afirma que ascotas não são o melhor instrumento para chegar a esse resultado comqualidade."É um instrumento ineficaz", ele diz, "que praticamente estabelece umareserva de mercado". "A primeira conseqüência -e isso é algo que jávimos acontecer no passado, quando tivemos reserva de mercado paraprodutos de informática- é que o produtor deixa de se preocupar com aqualidade e com o preço do produto."Se for imposta uma cota mínima de programação nacional, as programadoraspodem ter que responder com uma de duas soluções, ele diz. "Podemos terque diminuir o número de canais estrangeiros ou ter que veicularconteúdo nacional de qualidade discutível."Para Fernando Dias, presidente da Associação Brasileira de ProdutorasIndependentes de TV, não há risco de falta de bom conteúdo. Suaassociação, ele diz, reúne 115 produtoras independentes que já exportamprogramação para outros países, como Canadá e Japão, que nem chegam aser conhecidas no Brasil."Os grandes mercados do mundo já criaram formas de preservar e estimulara produção local; o Brasil é a exceção", ele diz, afirmando que as cotassão importantes para incentivar um mercado que pode criar mais renda eemprego.Não há igualdade de competição entre brasileiros e estrangeiros hoje,afirma Dias, porque os produtos norte-americanos fazem economia deescala e são vendidos a preços baratos no mundo todo.Também o apresentador Marcelo Tas defende as cotas, embora diga que elasnão são suficientes como política pública para a TV no país. "Temos queparar de ser ingênuos, de falar que não precisa proteger a produçãobrasileira. Isso é de uma ignorância comovente. Para existir, osamericanos, franceses e alemães também protegem seus mercados.""A gente precisa se ver", diz Tas. "Essa é a função da arte, do cinema,da comunicação." Ele afirma ver uma "burrice empresarial" na TVbrasileira, que não percebe que já é o produto nacional que mais atraipúblico e que tem a melhor qualidade. "A emissora líder [Globo] é a quemais está atenta a isso. Se você investe em audiovisual com produtos comque o público se identifique, ele vai atrás."A opinião é oposta à de Marcos Bitelli, especialista em direito dacomunicação e consultor da associação que representa as programadorasinternacionais. Ele defende que o consumidor não terá benefícios com ascotas para TV paga, que terminará por ter limitado o seu direito deacesso a diferentes conteúdos."Quem assina a TV paga procura uma alternativa à TV aberta", ele diz."Não é uma uniformidade de programação o que se espera da TV porassinatura. O acesso à diversidade cultural é que a caracteriza -alivocê vai encontrar canal italiano, francês, inglês etc., e escolher oque quer assistir. Imagine uma lei exigindo coisa semelhante nainternet", compara.
Informe ABC
Carlos Tourinho

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Resumo da reunião do Conselho Consultivo CANNE

Pauta sugerida por Gustavo Dhal:1. Atuação/operacionalização do Centro como Norte/Nordeste2. Integração das Redes/parcerias locais3. Relação com demais órgãos: SAV, Ancine...4. Critérios para utilização/empréstimo da câmera 35 mm5. Procedimentos: equipamentos e expansão dos equipamentos6. Apresentação do Relatório de Atividades do CANNEPRIMEIROS DESTAQUES:1. Função do CANNE, segundo Gustavo Dahl, a partir de um conceitosimples:
Apoio à Produção e Formação.2. Diferenças entre os conselhos consultivos da SAV e do CANNE: O da SAV discute políticas do Audiovisual e o do CANNE tem ênfase nao peracionalização do Centro.3. Isabela faz um resgate desde o início da criação do CANNE antes CTAv-NE, da importância de integração do poder público, via gestões emcultura, para que se unissem, no caso Fundação Joaquim Nabuco - MEC e SAV- MinC, em prol da idéia de descentralização e implantação de um Centro de Audiovisual no Nordeste.4. Problemáticas da operacionalização do Centro no Norte e Nordeste. Destaques feitos por Hermano e Januário: De que forma os estados serão contemplados? Hermano propõe a criação/articulação de Núcleos avançadosdo CANNE no Norte, e outros estados do NE a partir dos N.P.Ds, parafacilitar sua operacionalização. Que poderiam ser dois núcleos que contemplassem os estados nos eixos RO-AC e PA- AP.5. Januário propõe que esta descentralização se daria através da criação desses "Postos Avançados". Problemas de logística e custos operacionais com o deslocamento de equipamentos e pessoas. 6. G. Dhal completa: os problemas de logística alcançam desde as reuniões do conselho, deslocamento dos equipamentos e ocorrência da formação em outros estados. E que a decisão política de se incluir o norte no Centro parece viável e integradora mas a operação requer uma logística que dificulta o processo. 7. Ana Paula, concordando com palavras de Hermano sobre a demanda de produção em audiovisual nos estados do Norte, sugere que se tenha primeiro esse quadro real da demanda do Norte para que se faça umagrade da utilização da câmera 35 mm.8. Ainda com relação à Formação: Hermano sugere que o CANNE ofereça umaformação mais avançada para se relacionar com os NPDs. E os NPDsofereceriam cursos mais básicos para um público mais amplo.9. G. Dhal, coloca que já dá para observar que a demanda/oferta decursos no NE está mais integrada, enquanto que no Norte ainda nãosabemos avaliar. E fala que é difícil juntar "secos e molhados". Parasistematizar a sugestão de Hermano/Januário de descentralizar as açõesdo CANNE no Norte seria preciso ter essa avaliação.10. Póla Ribeiro lembra da última reunião em Brasília quando se propôs aentrada do Norte como área de abrangência do Centro.11. Ficou acertado que aos equipamentos forma de acesso será por seleção pública de projetosUTILIZAÇÃO DA CÂMERA AATOM IIIFoi posto que pelo Conselho Consultivo do CANNE, que :1. Haverá seleção de propostas inicialmente por ordem de chegada, deacordo com a disponibilidade do período de cada projeto, evitandoprojetos por demais vinculados a sazonalidade e ao imponderável.2. Haverá pontuação dos projetos a partir de alguns critérios.3. O proponente deverá comprovar que possui recursos para a feitura doprojeto dentro do prazo solicitado, principalmente para a compra denegativos. Daí os projetos que comprovarem que já ganharam algumprêmio/edital estarão melhores pontuados, para isso deverão apresentaruma Carta de Anuência.4. A ordem de chegada do projeto não terá a maior pontuação, mas serviráno desempate.5. Somente pessoas jurídicas, enquadradas como Produtoras de Audiovisual registradas na ANCINE, estarão HABILITADAS ao empréstimo da câmera. Porconta de item da seguradora, inclusive.6. O proponente deverá incluir na proposta o Plano de Filmagens.7. Também foi dito que será preciso que o proponente confirme com 30dias de antecedência que preenche todos os requisitos necessários aoempréstimo da câmera.8. Foi consenso que se deve fazer um edital ou processo de seleçãopública.9. Segundo Gustavo Dahl o conceito que dá base ao edital é a VIABILIDADEde realização.10. Será necessário que ao menos 1 integrante da equipe de Fotografiaseja registrado no Ministério do Trabalho, ou seja possua DRT de suafunção.11. Os longas apoiados não deverão ultrapassar o teto de 1,3 milhões dereais no seu orçamento.12. O proponente deverá comprovar que tem pelo menos 50% do seuorçamento garantido até a fase de filmagem.13. Isabela sugeriu que se fizesse dois editais semestrais: 1 para Longae 1 para curta.14. Os projetos serão selecionados por uma Comissão, composta porpessoal habilitado, indicado pelo Conselho e contratado para taldemanda.15. Foram citadas as seguintes datas, a serem fechadas:
Inscrições: de 1 de setembro a 15 de outubro
Processo de Seleção: de16 de outubro até 14 de novembro
Divulgação do resultado: dia 15 de Novembro16. O segundo semestre de 2008 será só para Formação/Itinerância17. O processo seletivo de 2009 já tem início em janeiro.18. As produtoras poderão apresentar diversos projetos mas só poderãoter no máximo 3 aprovados.19. Ana Paula lembra que legalmente são necessários 45 dias dapublicação do edital até início do processo.20. Só será aceito 1 longa por Produtora.21. A intenção é de apoiar de 15 a 20 curtas.22. Cronograma anual de utilização da câmera: 28 semanas para CURTAS 08 semanas para FORMAÇÃO 12 semanas para LONGA 04 semanas para MANUTENÇÃOTOTAL:Das 52 semanas do ano, 40 serão de FILMAGENS12 semanas para FORMAÇÃO, MANUTENÇÃO e entrega do equipamento.PRODUTOS:Aproximadamente 16 produtos14 curtas – 1 por 2 semanas –28 semanas2 longas – 1 por 6 semanas – 12 semanasDESTAQUES FORMAÇÃO23. A reunião foi finalizada com a apresentação do Relatório deAtividades do CANNE, destacando as atividades realizadas na parte deformação até o momento, que reflete a importância e a demanda reprimidaem qualificação técnica em audiovisual no nordeste.24. Após a explanação do relatório de atividades dos cursos, foi ditoque seria interessante se criar um mecanismo de bolsas para alunos quemoram distante. O Estado abriria vagas para bolsistas(realizadores/técnicos).25. Januário propõe que deveremos reservar 2 vagas para o estado doNorte.26. Gustavo Dhal colocou que deveremos elabora um Modelo de Negócios quesirva para todas as aplicações. Com princípios, enfoques eprocedimentos. Também falou que deveria ter uma pessoa com a funçãoexclusiva de articulação e formação de redes dentro do CANNE, voltadapara formação. Também lembrou das vária formas e ferramentas viáveisatualmente como difusão dos conteúdos didáticos trabalhados nos cursos.Tais como Internet e EAD que deveriam ser lembrados num projeto maisamplo de Formação do CANNE no futuro. Intinerancia dos Cursos.A coordenadora de formação do CANNE Cynthia Falcão falou que aintinerancia das oficinas começou pela Paraiba e está em agendamentopara Alagoas. póla Ribeiro interviu sugerindo que para ficar umaprática mais republicana e justa que o CANNE enviasse ao mesmo tempoa todas as secretarias de cultura do norte e nordeste as condições deparceria para os Estados que vierem a se interessar em sediar asoficinas.23. O Conselho Consultivo do CANNE – Centro Audiovisual do Norte eNordeste é formado por : I Germano Coelho Filho,APCNNE (PE) - Titular,Jorge Alfredo, APCNNE (BA)- Suplente; II – Hermano de FigueiredoMendes, ABD (AL), - Titular, Rosângela Rocha, ABD (SE) – Suplente; II -João Januário Furtado Guedes, APCNNE (PA) – Titular, Wolney Oliveira,APCNNE (CE) – Suplente; IV – Márcio Meirelles, Fórum Nacional dosSecretários de Cultura (BA) – Titular , Luciana Azevedo, Fórum Nacionaldos Secretários de Cultura (PE) - Suplente; V – Roseane Coelho Farias,ABD (PA) – Titular; Sérgio Uchoa-ACVA/ABD (AM) – Suplente, de acordocoma portaria da Secretária do Audiovisual N° 3, de 13 de junho de2008, publicada no Diário Oficial da União – N° 113, segunda feira , 16de junho de 2008, Secção 2 , ISSN 1677-7050 pág 7.24. Ficou determinado que o Conselho deverá se reunir, trimestralmenteem dia, hora e local a ser definido.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Para quem não conhece o CANNE



Centro Técnico Audiovisual do norte e nordeste - CANNE Antiga reivindicação da classe cinematográfica da região Nordeste e emconformidade com a política de descentralização e regionalização do Governo Federal, o CANNE foi implantado por meio de uma parceria da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV/Minc) com a Fundação Joaquim Nabuco do Ministério da Educação (Fundaj/MEC). O CANNE desenvolverá suas atividades sob a coordenação do CTAv Nacional, que funciona no Rio de Janeiro. A instituição foi criada há 20 anos eopera ações técnicas da SAV/MinC nas áreas de fomento, formação, difusão e memória do audiovisual brasileiro. A Fundaj, que já atua há mais de 50 anos na produção, exibição, acervo, reflexão e fomento do audiovisual alia sua vocação histórica de entidade fomentadora da cultura aos programas de expansão da economiado audiovisual implantadas pelo MinC com objetivo de reforçar a emergente cinematografia regional. Em conformidade com a proposta de descentralização do MINC e por ser umaentidade pública federal executora de políticas públicas para a região Nordeste, a Fundaj propôs o projeto para a implantação de um Centro Técnico que atendesse a demanda do norte e nordeste, na sua sede, assegurando uma contra-partida em recursos econômicos (infra-estrutura,equipamentos, local de instalação, segurança e seguro) estimada no valorde R$ 500 mil reais, além de um custo mensal de manutenção (pessoal, manutenção dos equipamentos e da estrutura) estimada em R$ 10 mil. De acordo com Isabela Cribari, 85% das produções audiovisuais estão concentradas na região Sudeste do Brasil. “Trazer uma câmera de cinema 35mm para filmar no Nordeste encarece, aproximadamente R$ 10 mil emqualquer filme, incluindo aluguel, transporte, excesso de bagagem epassagem de acompanhante”, afirma. “Pernambuco, geograficamente, é estratégico, pois faz fronteira com cinco dos oito estados do Nordeste, e pode impulsionar a produção de audiovisuais na região. O Ministério da Cultura (Minc) já investiu recursos da ordem de R$ 1,5 milhão na aquisição de equipamento completo (câmera cinematográfica 35mm, de última geração) para atender as produções independentes do Nordeste e possibilitar a capacitação de operadores e assistentes defotografia.A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) comprou e disponibilizou para o CANNE, uma ilha de edição e uma câmera HDTV e já prevê em seu orçamentopara 2008 recursos para a compra de mais equipamentos a serem definidos pela classe como prioritários. A Fundação de Patrimônio Histórico de Pernambuco – FUNDARPE entrou nestaaliança através do financiamento de R$ 120.000,00, que está possibilitando a realização de 7 (sete) cursos técnicos este ano. O modelo de gestão do CANNE, prevê a existência de um comitê gestor coma participação de membros da sociedade civil, representantes da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD) e da Associação deProdutores e Cineastas do Norte e Nordeste (APCNN), além do MINC, daFundaj e de representante dos governos dos estados do Norte e Nordeste.ProcedimentosA utilização dos equipamentos, por profissionais independentes e comfinalidade educativo/culturais, será gratuito e mediante inscrição daproposta através de uma pessoa jurídica no formulário contido nestapágina, que deverá ser remetido para o CANNE:
Fundação Joaquim Nabuco – CANNE
Rua Henrique Dias, 609 – DerbyRecife-PE 52010-100.
Tel. 81 3073 6724/ 6725
Relação dos equipamentos
- Câmera 35mm e acessórios
- Câmera HDTV
- Ilha de Edição
Carlos Tourinho

terça-feira, 22 de julho de 2008

Aí mocinho!!!

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Lembro-me como se fosse hoje, lá pelos idos de 50, eu guardava dinheiro durante toda a semana para no sábado ou no domingo, ir ao cinema Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro, para acompanhar o seriado da época que podia ser a Família Marvel, o Super-Homem, o Homem Borracha, o Zorro, Roy Rogers e muitos outros heróis americanos. Naquela época, só existia herói americano no cinema.
Aí mocinhooo!!! Gritava a galera dos oito aos quinze anos. Como a cadeira do cinema era de madeira e não tinha forro, ou seja, um verdadeiro pulgueiro, o gerente ficava louco com a barulheira dos guris batendo com toda força com o assento.Por incrível que pareça ainda se ouvia o grito do vendedor de balas:
-Baleirooo!!!
Na tela, um homem que estava sempre de terno, gravata e chapéu, gritava Shazam! Um raio surgia, ninguém sabe de onde, e atingia o herói. Era aquele papoco: BOOMM!!! Aparecia então, através de uma fumaceira, um cara com uma vestimenta de dar inveja a qualquer figurinista de cinema ou de televisão de hoje: uma roupa branca bem justa, com uma capa escura que pela tonalidade devia ser vermelha (o filme era preto e branco); no peito, o desenho de um raio. Ele olhava para um lado e para o outro e voava.
Muitos anos depois surgiu a Família Marvel: Capitão Marvel, Mary Marvel e o Boy Marvel.
O filme seriado sempre terminava com nosso herói em situação de perigo e aquele narrador perguntando: “ será que o nosso herói se salva? Veja no próximo capítulo.” A cena normalmente era do Dr. Sylvana (inimigo da família Marvel) sacaneando o Capitão Marvel.
O interessante destas histórias era que o público infantil participava ativamente dando soluções para os problemas dos mocinhos.
Houve um fato naquela época que serve como exemplo de como a turma vestia a camisa dos heróis. Um garoto vestiu uma fantasia do capitão Marvel, gritou Shazam, pulou de cima de um brinquedo no parque de diversões e se estatelou no chão.Não morreu, mas deu manchete de jornal popular: “Garoto grita Shazam e sifu no chão”. Era a interação do público com o filme.
Outro detalhe era que naquelas sessões de cinema, garota não ia. Ai daquela que se atrevesse a enfrentar aquele bando. Era um clube do bolinha onde não entravam meninas, nem suas mães. Quando levavam os filhos menores, deixavam-nos no cinema e os apanhavam no final da sessão.
Uma coisa é certa: nunca vi o Capitão Marvel, o Super Homem, o Zorro, o Homem Borracha, Batman and Robin, qualquer desses heróis matar ou explodir alguém com um tiro na cabeça fazendo os miolos voarem.
A violência nas brigas mocinho X bandido era sempre em prol da comunidade. Bofete pra' lá, bofete pra' cá.E tome porrada.De vez enquanto eles botavam uns passarinhos de desenho animado sobrevoando a cabeça do bandido.É. Isso foi há muito tempo atrás; no tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça.

Carlos Tourinho.

Baleiro!!

Escurinho do cinema, década de cinqüenta. Na tela o filme passava normalmente, na platéia ouvia-se um gritodiscreto quase sussurrando: baleiro..bala...baleiro...balas Ruth... olha a goma!Fazia-se então um silêncio por uns dez ou quinze minutos e de repente via-se o vulto do vendedor de balas passando devagar e voltava com seu pregão: baleiro...bala...balas Ruth...goma...olha a goma!
A maioria dos cinemas não tinha bar para vender pipoca ou doces, e a figura do vendedor de balas andando pela sala, era certa.
De vez enquanto, um pequeno tumulto: na tela um filme de suspense e na melhor cena onde o som era importante dentro da cena, ouvia-se aquele pregão: baleiro..balas Ruth!
-Cala a boca guri!
O vendedor de balas se calava e desaparecia na escuridão para voltar mais tarde com o seu pregão.
Um colega de escola era um desses vendedores de balas e me convidou para ser baleiro. Ele me convenceu com um argumento infalível: podia ver todos os filmes e seriados de graça.Não precisou falar duas vezes.
O grande problema era convencer minha mãe.
-Vender bala no cinema? Não. Não e não.Onde já se viu isso? Um menino de dez anos em vez de estudar vender bala no cinema?
-Mãe, eu vou ver todos os filmes de graça e é só final de semana.
Diante disso- de que era só no final de semana - e ela não precisava se preocupar com o dinheiro da entrada....
-Você jura que é só no final de semana?
-Juro.Pergunta ao Beto, foi ele quem me arranjou.
-Ora, logo quem? O Beto, com aquela cara de santinho barroco?
-Eu juro.Quem sabe o dono não deixa a senhora entrar de graça?
Peguei pesado.Grande chantagem com dona Belaniza, minha mãe.Ela pensou, titubeou, e não deu outra.
-Está bem. Você ganha algum dinheiro com isso?
-Ganho.
-Está bem pode ir, mas é só no final de semana.
Saí pulando de alegria.Já pensou? Ver filmes de graça? E o seriado: Ayooo... Silver! Lá ia o Zorro em cima de seu cavalo Silver, e o índio - Tonto - que era seu companheiro inseparável, O Homem Aranha, e os desenhos animados? E os filmes proibidos?
No dia marcado minha mãe me arrumou todo, roupa limpa e perfumado, estava mais perfumado do que filho de barbeiro.
Apresento-me ao dono do cinema que me apresenta um tabuleiro cheio de balas.
O tabuleiro era de vime, desses que se pendura no pescoço com uma alça de pano.
Era bem sortido, com vários tipos de balas, mas na época a mais famosa era as tais balas Ruth, as que vendiam mais, pois faziam muito "reclame" no rádio.
Lá vou eu. De inicio um pouco inibido, eu prestava mais atenção ao filme do que apregoava a venda das balas; na realidade eu passeava pela sala de projeção sem gritar até que um dado momento o lanterninha me disse que o dono queria falar comigo.
-Carlinhos , disse o gerente dirigindo-se a mim: você tem que anunciar que está vendendo balas, não é só passear pela sala, se você não gritar, ninguém vai saber o que você está fazendo ali. Grita Carlinhos.Grita, que você vende.
-Posso gritar?Pergunto.
-Pode. - responde, o dono.
Encostei-me atrás das últimas cadeiras, tomei coragem e fui em frente.
-Alô. Bala... baleiro... baleiro, bala! Tá docinha que tá danada.Vai de bala aí, senhor? E a senhora, vai de bala? Alô... baleiro, bala.
Desandei a falar pelos cotovelos.
Eu pensei: está tudo no escuro, ninguém sabe quem eu sou.Lá vou.
Inventei um pregão diferente achando que estava abafando, falava rápido, mas baixinho para não incomodar.
De vez enquanto alguém me chamava e comprava balas.
Isto durou dois fins de semana mais num belo sábado, durante a projeção de um filme de horror, eu todo compenetrado como o baleiro do cinema Bangu, realizando meus sonhos- ver filmes de graça e ver até filme proibido, quando...
-Baleiro, bala...baleiro...vai de Ruth, senhor?
E o filme lá no telão quadrado.Quando, de repente, alguém grita: ô guri chato pára com esta cantoria!!!
Houve aquele silencio.Aquilo para mim foi a maior vergonha ser chamado atenção quando estava trabalhando, vendendo minhas balas.
Fui de mansinho lá para os fundos do cinema, no escuro ninguém me via, mas a impressão que eu tinha era de que todos me olhavam.
Fiquei decepcionado com a platéia. Pensei: vou me vingar.
Em dado momento, no melhor do filme, na hora mais emocionante (eu conhecia o filme) enchi os pulmões e berrei com tudo que tinha dentro de mim:
BALEIIIIROOO!!! QUEM VAI DE BALA!! BALEIIIROOO!!!
Saí gritando pelo salão adentro e ainda parava na frente de todo mundo.
Foi um Deus nos acuda, nunca vi tanto palavrão como naquele dia, coitada da minha mãe, ainda bem que ela não soube.
Era assobio e neguinho gritando: cai fora guri, vai vender bala lá na rua, e aí é que eu gritava mais ainda; foi a maior guerra de berro.
O dono do cinema acendeu as luzes e lá estava eu, em frente a uma platéia de cinéfilos a gritar comigo, e eu com aquela cara de garoto de dez anos, espantado, mas não com medo.
-Tira este guri daqui, ô seu Manoel.
Seu Manoel, o dono do cinema, foi lá e me arrastou delicadamente para fora da sala de exibição. E a sessão continuou normalmente, mas sem o baleiro mor do cinema Bangu.
Carlos Tourinho

Ponto de Cultura será equipado com materiais de última geração.

Com o ponto de cultura, a maioria das ABD's poderá comprar equipamentos profissionais como cameras, gruas, carrinhos, ilha de edição, material de iluminação, que ficarão a disposição dos sócios para suas produções.


"Além de promovermos mostras de filmes nacionais e cursos. Quem estiver disposto a trabalhar em seu próprio projeto a ABDeC/RN dará apoio e suporte técnico necessário".

Carlos Tourinho (Pres. ABDeC/RN)


PONTO DE CULTURA

A ABDeC/RN está formatando projeto para tornar-se ponto de cultura no RN, o projeto vem acompanhar a tendência das ABD´s que em outros Estados já fazem parte de uma rede de pontos de cultura espalhados pelo Brasil.

O ponta-pé inicial já foi dado pela Diretoria da ABD local, que em breve, anunciará a aprovação junto aos orgãos governamentais que estão liberando a concessão as entidades espalhadas pelo país.